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14 de dezembro de 2009

Canaã

(...)

- Não te canses em vão... Não corras... É inútil... A terra da promissão que eu ia mostrar e que também ansioso buscava, não a vejo mais... Ainda não despontou à Vida. Paremos aqui e esperamos que ela venha vindo no sangue das gerações redimidas. Não desesperes. Sejamos fiéis à doce ilusão da Miragem. Aquele que vive o Ideal contrai um empréstimo com a Eternidade... Cada um de nós, a somo de todos nós, exprime a força criadora da utopia (...). Aproximemo-nos uns dos outros, suavemente. Todo o mal está na Força e só o Amor pode conduzir os homens.


Tudo o que vês, todos os sacrifícios, todas as agonias, todas as revoltas, todos os martírios são formas errantes da Liberdade. E essas expressões desesperadas, angustiosas, passam no curso dos tempos, morem passageiramente, esperando a hora da ressurreição... Eu não sei se tudo o que é a vida tem um ritmo eterno, indestrutível, ou se é informe e transitório... Os meus olhos não atingem os limites inabordáveis do Infinito, a minha visão se confina em volta de ti... Mas, eu te digo, se isto tem de acabar para se repetir em outra parte o que venha do seio maternal da Terra; ou se estivermos na estrada dos céus, não nos separemos para sempre um do outro nesta atitude de rancor... Eu te suplico, a ti e à tua ainda inumerável geração, abandonemos os nossos ódios destruidores, reconciliemos-nos antes de chegar ao instante da Morte...



(Graça Aranha. Canaã, 1943)

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